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sábado, 20 de dezembro de 2014

A GOTAQUE FALTAVA

A água potável do mundo vai acabar, e talvez isso aconteça antes do que você imagina. Saiba como vai ser a sua vida depois do fim, e veja o que fazer para tentar adiar este momento.

POR JESSICA SOARES
Hoje, para uma em cada sete pessoas do planeta, a falta de água já é uma realidade. A ONU estima que um bilhão de pessoas não tenha água própria para beber e 2,5 bilhões não tenham acesso a saneamento básico. A água está mal distribuída no planeta e, se a crise hídrica cresce, se intensificam outras desigualdades. Conforme diminui o acesso à água, a tendência é que os conflitos por água se intensifiquem. Se falta água, piora também a saúde: segundo a Organização Mundial da Saúde, 80% de doenças em países em desenvolvimento são causados pelo consumo de água não potável e saneamento precário - a cada 20 segundos, uma criança morre por conta da falta de saneamento. É muita gente bebendo água suja.

ESCASSEZ DE ÁGUA ABSOLUTA NO MUNDO

2014
2015
1,6
1,8
7
8,2
bilhões de pessoas
pessoas atingidas

FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO E/OU OUTRAS CONDIÇÕES DE ESCASSEZ

2014
2015
2,5
5,4
7
8,2
bilhões de pessoas
pessoas atingidas
Fonte: ONU
Apesar de o Brasil guardar em seus rios 13% do volume fluvial mundial, se nada for feito, a partir de 2025, cerca de um terço dos brasileiros enfrentará a falta de água, segundo o Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, elaborado pela Agência Nacional das Águas (ANA). Na Região Metropolitana de São Paulo, maior concentração populacional do país, o ponteiro já está no vermelho, com uma demanda de água 4% maior do que há disponível nos reservatórios que a abastecem. Em 2025, este déficit poderá ser quase cinco vezes maior. “O cenário não é exclusivo a São Paulo ou ao Rio de Janeiro, ele vem acontecendo nas cidades como um todo. O crescimento desordenado, a expansão em direção às áreas que deveriam ser protegidas, a destinação inadequada de resíduos e de lixo - tudo isso compromete a disponibilidade de água”, explica Samuel Barreto, especialista em recursos hídricos e coordenador do Movimento Água para São Paulo, desenvolvido pela organização ambiental The Nature Conservancy Brasil.
O desequilíbrio entre oferta e demanda causa impacto na qualidade de vida. “No dia a dia, a água é fundamental para a sobrevivência e higiene. E, olhando na perspectiva da sociedade, a água é um vetor de desenvolvimento”, explica o superintendente de planejamento de recursos hídricos da ANA, Sérgio Ayrimoraes. “Quando pensamos no aumento da atividade produtiva, no crescimento do país, na maioria das vezes isso está atrelado à boa gestão da água e na garantia de recursos hídricos para que todas atividades aconteçam”, completa.

QUANTO MAIS ÁGUA PRECISARMOS, MENOS TEREMOS

DISPONIBILIDADEATÉ 2025
67 MIL LITROS /SEGUNDO
80 mil litros/segundoDemanda em 2025
70 mil litros/segundoDemanda em 2014
Fonte: Movimento Água Para São Paulo

DE GOTA EM GOTA

A solução vai ser investir em outras fontes para suprir a demanda

  • bebendo umidade

    BEBENDO UMIDADE

    Pode não parecer, mas tem muita água pairando por aí. Se o solo estiver seco, uma opção vai ser beber água presente no ar. Cientistas do Instituto Fraunhofer, em Stuttgart, na Alemanha, encontraram uma maneira de converter umidade em água potável. Como o processo é baseado em fontes de energia renováveis (como coletores solares térmicos), o método é autônomo e pode funcionar até em regiões em que não há infraestrutura elétrica.
  • esgoto reciclado

    ESGOTO RECICLADO

    A água acabou? Beba xixi. Desde 2008, um equipamento que purifica suor e urina permite que os astronautas da Estação Espacial Internacional bebam água reciclada. Em terra firme o reuso da água também já é realidade: Windhoek, capital de clima árido da Namíbia, por exemplo, recicla esgoto desde 1969. Cingapura, México, Israel e Estados Unidos também já mandam esgoto purificado de volta para a torneira. Atividades como irrigação de campos, descarga em banheiros, lavagem de veículos e construção civil usariam água reciclada. O setor agrícola, o maior “bebedor” de recursos hídricos, também poderia fazer o reuso de água.
  • tempestade em copo d'água

    TEMPESTADE EM COPO D'ÁGUA

    Os mais antigos sistemas de captação de águas pluviais datam do século 2 a.C.. E, se a crise da água piorar, aproveitar a chuva pode se tornar indispensável. O método já faz diferença no Brasil: programa iniciado em 2003 pela ASA - Articulação do Semiárido (rede formada por mil organizações da sociedade civil) já construiu quase 500 mil cisternas, garantindo água para mais de 2 milhões de pessoas. A construção de barragens subterrâneas, que impedem que as chuvas escorram por debaixo da terra e se percam por evaporação, também pode se tornar popular.
  • água sem sal

    ÁGUA SEM SAL

    Em Israel, 60% do território é tomado por desertos, chuva é evento raro e quase não há rios. Ainda assim, o país mantém uma agricultura intensiva e produz água para dar e (literalmente) vender. Isso tem explicação: além de reciclar 75% dos seus esgotos (maior média mundial), as usinas de dessalinização israelenses, que purificam água do mar para consumo, podem produzir até 510 milhões de metros cúbicos de água por ano. Apesar do alto rendimento, a dessalinização não é milagrosa - consome muita energia e causa impacto ambiental.
  • bebendo umidade

    BEBENDO UMIDADE

    Pode não parecer, mas tem muita água pairando por aí. Se o solo estiver seco, uma opção vai ser beber água presente no ar. Cientistas do Instituto Fraunhofer, em Stuttgart, na Alemanha, encontraram uma maneira de converter umidade em água potável. Como o processo é baseado em fontes de energia renováveis (como coletores solares térmicos), o método é autônomo e pode funcionar até em regiões em que não há infraestrutura elétrica.
  • esgoto reciclado

    ESGOTO RECICLADO

    A água acabou? Beba xixi. Desde 2008, um equipamento que purifica suor e urina permite que os astronautas da Estação Espacial Internacional bebam água reciclada. Em terra firme o reuso da água também já é realidade: Windhoek, capital de clima árido da Namíbia, por exemplo, recicla esgoto desde 1969. Cingapura, México, Israel e Estados Unidos também já mandam esgoto purificado de volta para a torneira. Atividades como irrigação de campos, descarga em banheiros, lavagem de veículos e construção civil usariam água reciclada. O setor agrícola, o maior “bebedor” de recursos hídricos, também poderia fazer o reuso de água.
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CRÉDITOS

  • TEXTO:Carolina Vilaverde, Lucas Muniz Baptista, Jessica Soares e Raquel Sodré
  • EDIÇÃO:Mariana Nadai, Otavio Cohen e Rafael Kenski
  • ILUSTRAÇÃO E DESIGN:Laura Rittmeister
  • EDIÇÃO DE ARTE:Abraão Corazza
  • DESENVOLVIMENTO:Alberto Cordeiro, Allyson Kitamura, Cah Felix, Leonam Dias e Wendel Nascimento
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